13.4.10

Prostituiram a minha profissão. E agora?

O post de hoje nasceu de algo que acabo de ler em um fórum de discussões. Nele, "designers" e leigos discutiam sobre quanto poderia cobrar-se por um logo. A discussão em si já é o princípio do problema, mas uma resposta de um dos envolvidos sugerindo que "20 pila" era suficiente foi o que me chamou a atenção. Para completar, em um outro site vendem-se logos por R$500 parcelados no cartão de crédito e incluindo Manual de Identidade Visual e papelaria.

Foi ai que, de tudo isso um único pensamento invadiu a minha mente (desculpem os palavrões): 
"Transformaram a publicidade/design em uma p#ta pobre!"

Pra mim é muito difícil entender como podemos chegar a esse patamar, ainda mais no momento econômico que vivemos. Pra começo de conversa a nova lógica capitalista, a qual afeta consumidores - os quais exigem produtos que reflitam a sua personalidade; e produtores - os quais necessitam pensar os seus produtos orientados para os seus consumidores, aumenta a responsabilidade daqueles que pensam a construção do valor simbólico de bens e serviços. Afinal, é realidade conhecida que para sobreviver na selva de organizações globais, as quais produzem globalmente e assim concorrem globalmente, é necessário muito mais do que um produto e sim uma marca que fale e valha por si.


Além disso, fazer publicidade ou pensar design não é um trabalho braçal e sim uma organização de pensamentos e conhecimentos das mais diversas esferas: pscicologia, econômia, artes, semiótica e tantas outras que tornam-se necessárias dependendo de cada caso. Requer tempo e dedicação.


O problema não é cobrar 20 ou 500 reais por um logo e sim perceber que o precificam como se fosse um trabalho mecânico, igual para todos os casos. Não é assim. A criação de um logo, pra começo de conversa, é só a ponta de um iceberg, nenhuma empresa existe sem, mas também não passa da mediocricidade só com isso. 
Isso vale na mesma proporção para aquelas empresas que chegam para uma agência e dizem "faz um anuncinho ai" (quando elas dizem isso, por sinal, esperem que elas também vão pagar qualquer coisinha). Ou para aqueles clientes que mandam fazer o site com o sobrinho que fez um cursinho de corel mês passado.


Não vou comparar a comunicação com outras profissões, pois acho ignorância fazer isso em qualquer caso, mas é importante ressaltar que, apesar de não matar ninguém, ela implica responsabilidade e conhecimento como qualquer outra. Nosso trabalho afeta diretamente a vida das pessoas, no que elas consomem, querem ser e são.

Para encerrar, acho importante fazer duas considerações. A primeira é que nós comunicadores somos responsáveis por isso, afinal quando concordamos com isso estamos assinando o atestado de que o nosso trabalho vale pouco. A segunda, empresas queridas (principalmente aqui da região) lembrem-se que a sua marca (a qual não é só o logo, mas tudo que lembram sobre a tua empresa) é aquilo que falará por ti enquanto dormes.

(essa discussão continua uma hora dessas)


8 comentários:

M. Turchetti disse...

bruna,

essa m.... toda não é de agora, e tu sabes bem disso. em nosso país, tudo se resolve da forma mais simples, fácil e barata, seja ela qual for. resultado? quem sabe medir? e a gente investe quatro, cinco anos na comunicação pra ter um diploma que não vale nada e ainda por cima temos que aceitar essas regras injustas e mal concebidas, desde a formação do nosso povo, lá nos idos de 1500 e tantos... =)

João Lise disse...

Um dos grandes problemas do bom (vou deixar claro que é do bom) designer/publicitário é vender algo não-material e que não exigiu suor (no sentido literal) e convencer as pessoas do real valor daquilo. Ainda mais quando a pessoa escuta argumentos do tipo "conheço um guri que também sabe mexer no Corel".

Mas partindo de um outro ponto de vista, o bom designer não deveria ter isso como uma preocupação, pelo simples fato que aquela pessoa ali não é seu público alvo. Seria como a Nikon se preocupar com as câmeras TekPix. Qualquer um pode comprar um desses logos "TekPix" que citaste no texto, e pior, argumentar dizendo que é bom que tem "a tecnologia da tv digital" (seja lá o que isso quer dizer), mas isso não deve, de maneira nenhuma, se tornar uma preocupação para um bom designer.

Chef de Casa disse...

Perfeito.

E o termo Puta Pobre pra comparar a nossa profissão atualmente, sem dúvida será usada em conversas informais.

Samoel Lucas disse...

O TCC deixa a escrita afiada nao eh?!eheueh
belos pensamentos, publicitaria.
ate

bedin disse...

Ainda não explorei muito, mas gostei do teu blogue.

Escreve muito bem e temos alguns pensamentos em comum.

[ ]´S

@bedin

Anônimo disse...

Bruna (quanto tempo, não?!)

Concordo contigo. E, mesmo não fazendo PP (faço Arquitetura), sinto essa diferença entre aqueles que querem um bom projeto, que envolve muito mais do que um simples 'desenho' e os que tentam nos tratar com p* pobres, como tu bem disse. E é bom pensarmos bem, hoje, quem serão nossos clientes.

Um abraço!

Gostei do blog.

Bárbara Schneider (lembra quem sou?) faz tempo, né? Vi esse link no teu twitter...

Clara T. Pozza disse...

Bah, é a mais pura verdade. Acho que o maior problema do nosso mercado é a falta de registro da profissão. Qualquer criatura que sabe ligar um computador hoje em dia chega e diz "sou publicitário/designer". PQP! Eu fico indignada.
E também as empresas e a desgraça do nosso governo, que não sabem valorizar um profissional que foi estudar numa universidade e ralou pra poder ter o título de Bacharel em Comunicação Social. Que dedicou MUITO tempo pra aprender o que podia sobre a área. E saiu com a vontade de aprender ainda mais e mais, e mais...

Concordo com tudo.

Abraço de uma quase-formada em PP.

Clara

Clara T. Pozza disse...

Bah, é a mais pura verdade. Acho que o maior problema do nosso mercado é a falta de registro da profissão. Qualquer criatura que sabe ligar um computador hoje em dia chega e diz "sou publicitário/designer". PQP! Eu fico indignada.
E também as empresas e a desgraça do nosso governo, que não sabem valorizar um profissional que foi estudar numa universidade e ralou pra poder ter o título de Bacharel em Comunicação Social. Que dedicou MUITO tempo pra aprender o que podia sobre a área. E saiu com a vontade de aprender ainda mais e mais, e mais...

Concordo com tudo.

Abraço de uma quase-formada em PP.

Clara