Já me disseram que eu não gostava de Caxias do Sul, mas estão enganados, gosto tanto dessa cidade que me preocupo com ela e principalmente com o rumo que estamos seguindo.
Ano passado esta cidade foi considerada a Capital Nacional da Cultura. Título esse que questiono, baseada principalmente em algo que considero essencial para tal: a diversidade e o acesso cultural. Acho que a cultura provém da história e do estilo de vida adotado pela populção. Assim, não é algo instantâneo ou resolvido com uma meia dúzia de shows em praça pública. Vem do costume de décadas, vem dos valores que são considerados essenciais pelos que aqui vivem. E é isso que me preocupa. Os artigos intangíveis como lembranças e fatos históricos são desprezados, sendo o palpável e visível deslumbrado pela maioria. Mais vale um prédio alto do que um casarão antigo repleto de vida. Mais vale horas de trabalho bem pagas do que momentos de lazer em família.
Não vejo a cidade evoluir de forma pensante, vislumbro somente a pressa em crescer. E já dizia aquele clichê que a "pressa é inimiga da perfeição". Nesse caso a pressa é inimiga do crescimento sustentável e de uma cidade para ser vivida. Temo que em alguns anos Caxias seja uma cidade sem movimento, sem sentimentos, sem coração. Uma cidade de engarrafamentos, de pouco contato humano, uma cidade de máquinas e de concreto.
E veja bem, não sou contrária ao desenvolvimento e muito menos uma nostálgica de carteirinha, só considero que uma cidade não pode crescer sem planejamento. Sem parques convidativos, ruas largas com calçadas planas repletas de pessoas, sem árvores que deem sombra no verão e protejam da chuva no inverno, sem museus que conservem os acontecimentos passados, sem galerias de arte e teatros que tragam os acontecimentos presentes, sem instituição de ensinos suficientes para pensar o futuro.
Afinal qual a cidade que você quer?
Um aglomerado de concreto ou um espaço de convívio humano?
Vamos fazer uma campanha pela conservação da memória Caxiense. Vamos conservar o diferencial da nossa cidade. Vamos impedir que o vazio da exploração consumista nos transforme em meros ocupantes do espaço urbano.
Caxias precisa de personalidade.