31.7.09

Caxias do Sul: Capital Nacional da Exploração Imobiliária

Já me disseram que eu não gostava de Caxias do Sul, mas estão enganados, gosto tanto dessa cidade que me preocupo com ela e principalmente com o rumo que estamos seguindo.
Ano passado esta cidade foi considerada a Capital Nacional da Cultura. Título esse que questiono, baseada principalmente em algo que considero essencial para tal: a diversidade e o acesso cultural. Acho que a cultura provém da história e do estilo de vida adotado pela populção. Assim, não é algo instantâneo ou resolvido com uma meia dúzia de shows em praça pública. Vem do costume de décadas, vem dos valores que são considerados essenciais pelos que aqui vivem. E é isso que me preocupa. Os artigos intangíveis como lembranças e fatos históricos são desprezados, sendo o palpável e visível deslumbrado pela maioria. Mais vale um prédio alto do que um casarão antigo repleto de vida. Mais vale horas de trabalho bem pagas do que momentos de lazer em família.
Não vejo a cidade evoluir de forma pensante, vislumbro somente a pressa em crescer. E já dizia aquele clichê que a "pressa é inimiga da perfeição". Nesse caso a pressa é inimiga do crescimento sustentável e de uma cidade para ser vivida. Temo que em alguns anos Caxias seja uma cidade sem movimento, sem sentimentos, sem coração. Uma cidade de engarrafamentos, de pouco contato humano, uma cidade de máquinas e de concreto.
E veja bem, não sou contrária ao desenvolvimento e muito menos uma nostálgica de carteirinha, só considero que uma cidade não pode crescer sem planejamento. Sem parques convidativos, ruas largas com calçadas planas repletas de pessoas, sem árvores que deem sombra no verão e protejam da chuva no inverno, sem museus que conservem os acontecimentos passados, sem galerias de arte e teatros que tragam os acontecimentos presentes, sem instituição de ensinos suficientes para pensar o futuro.
Afinal qual a cidade que você quer?
Um aglomerado de concreto ou um espaço de convívio humano?
Vamos fazer uma campanha pela conservação da memória Caxiense. Vamos conservar o diferencial da nossa cidade. Vamos impedir que o vazio da exploração consumista nos transforme em meros ocupantes do espaço urbano.
Caxias precisa de personalidade.



Um comentário:

Rafa Dus. disse...

eu era um antigo leitor do trEPA, que foi parando de acessar o blog conforme os posts
também foram parando. mas ele sempre continuou alí.. nos meus "favoritos", e neste
final de semana, sem muito motivo, eu decidi dar uma passada por lá. primeiro minha
surpresa em ver que em um novo endereço eu ainda poderia ler
novos textos.. os quais eu sempre gostei muito.
mas a minha idéia inicial era mesmo a de ler os posts antigos, e assim eu fiz.
apesar de ter acompanhado o trEPA nos tempos de atualizações constantes, eu nunca havia
comentado nada, mas desta vez, após ler de novo os textos, um deles me chamou
atenção. um post de 08.. que fala de montevideo e da percebida "divisão" que ocorre naquela cidade.
digo que chamou minha atenção, exatamente porque no momento em que li, concordei com o que
era dito, porém depois.. também lendo uns outros textos que citavam porto.. eu fiquei pensando.
eu adoro PoA.. e gosto muito de Montevideo também. e aí eu vi como na verdade as duas se parecem.
e muito! é realmente muito evidente a divisão entre a parte histórica/antiga e a parte nova de montevideo.
e porto? o que dizer da zona norte, seus bairros, seu charme e modernidade disputados pela elite,
elite esta que na maioria das vezes nega o oposto, nega o centro, a cidade baixa..
não está formada aí a mesma divisão dos nossos vizinhos hermanos?
poa iniciou pelo centro rodeado de água, pelo porto, pela cidade baixa.. montevideo iniciou pelo centro
próximo à água, pelo porto e pela ciudad vieja, que concentra quase que igualmente as mesmas
características da nossa cidade baixa.. local boemio, de urbanização antiga, frequentado por todos,
inclusive muitas vezes pelos habitantes das áreas ricas e modernas, que buscam na diferença e contraste
que sentem ao sair de seus bairros chiques, o complemento para sua diversão, mas que na manhã seguinte
renegam novamente o antigo e preferem somente se manter em sua área rica.
no início de poa, os nobres se fixavam na duque, rua mais elevada do centro, onde desta forma poderiam
imprimir vigilância tanto física quanto psicológica sobre os que residiam junto ao cais e ao guaíba. além disto
evitavam o contato com estas pessoas e também poderiam de forma rápida, atráves apenas de saber a localização
da residência de alguém, já classificar os que pertenciam ou não à elite. com o tempo, os ricos começaram
a morar em seus casarões na independência, que nada mais é do que o prolongamento da antiga duque, ainda ficando
sobre o topo do morro. hoje temos o moinhos, o bela vista, e a classe "dominante" continua seguindo o traçado de topo
na topografia da cidade, cada vez mais se afastando e negando o centro. criando as mesmas impressões de divisão
vistas em montevideo, o descaso com o antigo, com a história. o que dizer para um visitante que chega em poa
pela primeira vez, e passa primeiro pela zona norte antes de chegar ao centro e suas imediações? assim como
quando chegamos em montevideo e vemos primeiro as mansões a beira-mar...
já com o final daquele seu post, com os dois últimos parágros.. eu concordo em tudo.
e por isso não deixo de acreditar que as coisas podem mudar e que exatamente pelo que
que você citou, as chances são muitos maiores em porto do que em montevideo.
Ser o Brasil, já nos dá muita vantagem.
Ps: não poderia haver melhor post neste novo endereço, para que eu escrevesse isto.
este caso de caxias, exemplifica bem o egoísmo e individualismo das pessoas em relação ao espaço em que vivem.
por que pensar no urbano, que é de todos, se podem pensar apenas no seu? apenas na sua arquitetura?
mas claro, nós podemos mudar isto.
=)